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domingo, 13 de julho de 2014

A Copa no Brasil foi um Casamento Indiano!


Análise: Quem veio com medo de ser assaltado, volta com boas recordações

SHOBHAN SAXENA
ESPECIAL PARA A FOLHA

SHOBHAN SAXENA é o primeiro correspondente indiano a ter vivido e trabalhado no Brasil. Residindo em São Paulo, fez reportagens para o "Times of India", "The Hindu" e a BBC South Asia

Faltando poucos dias para a primeira partida da Copa do Mundo, enquanto estádios recebiam os retoques finais, muros de rodoviárias eram pintados e cadeiras no aeroporto eram polidas, não pude deixar de pensar em um casamento indiano.
Os casamentos na Índia são eventos cheios de detalhes, mas, até o grupo do noivo chegar à casa da noiva, a cena é de caos: luzes sendo instaladas, decorações de flores sendo feitas, a comida sendo experimentada e mulheres correndo de um lado a outro com seus vestidos e joias. Quando a noiva surge, a música começa a tocar e, de repente, cada coisa vai para seu devido lugar. É o melhor exemplo de caos organizado.
É assim que o Brasil estava parecendo antes de a bola começar a rolar em São Paulo, em 12 de junho. Mas, assim como em um casamento indiano a cena muda com a chegada da noiva, aqui tudo começou a entrar no ritmo da música depois de Neymar colocar a bola dentro do gol da Croácia pela primeira vez.
Então a Copa do Mundo começou a parecer uma máquina bem lubrificada em que cada engrenagem estava funcionando à perfeição.
Para ser franco, as coisas não foram tão deprimentes quanto imaginamos. Durante as partidas da Copa, viajei a quatro cidades brasileiras e não enfrentei um único problema. É a mesma história com todos os jornalistas, locais e estrangeiros. Todos têm elogios a fazer à "Copa das Copas". Os estádios são excelentes, com ambiente perfeito. Os voos foram pontuais e as filas nos aeroportos, curtas e rápidas. Os hotéis foram calorosos e eficientes. E mesmo os muito criticados motoristas de táxi têm sido prestativos e simpáticos.
Mas o maior ponto positivo para o Brasil nesta Copa do Mundo tem sido o seu povo. Estive com jornalistas europeus que se perguntavam por que as pessoas são "tão simpáticas e sempre sorridentes". Dois jornalistas indianos me perguntaram várias vezes se "as pessoas são sempre tão acolhedoras". Quem veio para cá temendo ser assaltado, vai voltar levando recordações de cantorias, dança e festa nas ruas.
É claro que a derrota do Brasil na semifinal esfriou o ânimo. O Brasil perdeu a Copa em campo, mas conquistou o mundo fora de campo.
Na Índia, costumamos dizer brincando que no final tudo ficará bem, e, se não ficar, ainda não será o final. Mas, no Brasil, tudo estava bem antes mesmo da final.

E Ganhamos a Copa!

Análise: Ao menos fora de campo, Brasil ganhou a Copa


SIMON KUPER é colunista do "Financial Times", onde trabalha desde 1994. É autor de diversos livros sobre futebol, incluindo "Soccernomics" (2009), escrito em parceria com Stefan Szymanski


Pelo menos fora de campo, o Brasil ganhou a Copa do Mundo. Para nós, estrangeiros, tudo parece ter funcionado muito bem.
Os estádios foram perfeitos e não desabaram (se bem que uma passarela no Maracanã quase desmoronou antes de Argentina x Bósnia), os aeroportos deram conta e o trânsito não foi péssimo, mesmo que o Brasil tenha tido que fechar escolas e universidades e decretar feriados para que isso fosse possível.
Em suma, a organização foi ótima. Mas essa é a parte fácil. Já assisti a sete Copas, seis Eurocopas e uma Olimpíada, e, nos últimos tempos, a organização sempre é boa.
A Fifa sabe organizar Copas. Ela tem um roteiro. Se o país anfitrião o segue mais ou menos, as coisas funcionam.
Uma Copa do Mundo é um evento enorme apenas na TV: a Copa do Brasil será o evento de maior audiência da história. Mas a presença física do torneio é mais modesta.
Os espectadores foram brasileiros, em sua imensa maioria. Apenas cerca de 700 mil estrangeiros vieram, pouco mais que a média mensal normal. Como disse o governo, o movimento nos aeroportos foi menor do que no Natal.
A polícia lotou áreas turísticas para proteger a nós, estrangeiros. Tudo transcorreu razoavelmente sob controle.
Estádios também são mais ou menos fáceis de construir hoje em dia. Os daqui se parecem muito com os da Alemanha em 2006 ou os da África do Sul em 2010. Ninguém vai a uma Copa para curtir os estádios, de qualquer forma.
Portanto, a boa organização não é algo que, de repente, indique que o Brasil seja um país desenvolvido e maravilhosamente administrado.
Não. O que fez desta Copa a melhor à qual já assisti foi o ambiente. Sei que os brasileiros estão fartos dos chavões estrangeiros sobre sol, areia e samba. Mas procurem, por favor, entender o efeito de Copacabana sobre um cidadão do norte da Europa.
Alguns dos meus melhores momentos aqui foram as caminhadas que fiz descalço à beira-mar no Rio, em Fortaleza e em Salvador. Desconfio que muitos torcedores estrangeiros sintam o mesmo.
O outro elemento fundamental do ambiente: os brasileiros. Já fui a Copas bem organizadas como a dos EUA em 1994 e a do Japão em 2002, quando a maioria dos habitantes locais nem sabia que estava ocorrendo um Mundial.
Os brasileiros viveram a Copa. E quase todo mundo que conheci aqui me tratou com simpatia. Essa atitude amistosa é um trunfo nacional.
Na noite do 7 a 1 caminhei pelos Jardins, e, em vez de protestos, vi muitos brasileiros gargalhando. A maioria de vocês reagiu à humilhação com dignidade. Nós, visitantes, pudemos ter um vislumbre do Brasil, ainda tão pouco conhecido no exterior.
Não haverá legado econômico. Quase todos os economistas acadêmicos concordam: sediar uma Copa não enriquece o país anfitrião.
A boa imagem conquistada pelo Brasil neste mês não vai se traduzir em mais turismo ou investimentos estrangeiros no futuro. Fora de campo, o Brasil viveu uma boa Copa. Essa é uma recompensa por si só. Desfrutem dela.

(Tradução de Clara Allain)