Investigação localiza R$ 200 milhões do PCC em
contas de laranjas
A dinheirama, segundo o secretário nacional de
Justiça, estava em cerca de 500 contas bancárias movimentadas a partir de
presídios por membros da organização criminosa
Por Vasconcelo Quadros- iG São
Paulo | 04/02/2014 06:00
Uma parafernália eletrônica e digital operada
por especialistas e identificada com o singelo nome de LAB-LD (siglas do
Laboratório de Tecnologia Contra a Lavagem de Dinheiro) está revolucionando as
investigações no país. No resultado recente mais promissor na guerra contra o
crime, a engenhoca ajudou a polícia a identificar a lavandaria financeira do
Primeiro Comando da Capital (PCC) cujo império é estimado em R$ 200 milhões –
uma verdadeira fortuna erigida através do tráfico e do roubo.
A dinheirama, segundo o
secretário nacional de Justiça, Paulo Abrão, estava em cerca de 500 contas
bancárias movimentadas por integrantes do PCC presos em Presidente Venceslau,
no interior de São Paulo, através de comparsas e parentes em liberdade.
Identificada a rede e as movimentações, o dinheiro e os bens em nome de
laranjas foram bloqueados e aguardam decisão judicial.
Já se descobriu que parte dos lucros da
quadrilha é reinvestida nas operações criminosas e o restante lavado de
diferentes formas: mercado financeiro, imóveis, transporte clandestino,
comércio ou qualquer atividade que possa ser exercida por terceiros. As
investigações prosseguem em 2014 e buscam identificar outras ramificações da
quadrilha.
O PCC, segundo aponta o rastreamento, erigiu de
dentro da Penitenciária II de Presidente Venceslau – onde estão recolhidos seus
principais líderes –, uma estrutura econômica cujo desmantelamento se
transformou num verdadeiro desafio ao Estado brasileiro. Antes de ingressar na
era dos grandes negócios do crime, a organização já exercia o controle de 90%
da massa carcerária paulista.
Um conjunto de equipamentos
eletrônicos, hardwares e softwares operados por policiais que se especializam
na identificação dos rastros de dinheiro sujo, o LAB-LD é uma das principais
ferramentas do grupo de inteligência integrada criado em São Paulo após a crise
na segurança pública em 2012. A força-tarefa reúne atualmente 19 órgãos
públicos estaduais e federais, dedicados a esmiuçar as atividades do PCC e de
outras quadrilhas.
Organizadas inicialmente para combater o desvio
de recursos públicos, os LABs se destacam por analisar com rapidez e precisão
grandes volumes de dados. Os laudos emitidos por especialistas no setor,
segundo o secretário Paulo Abrão, têm sido aceitos pelo Judiciário como provas
confiáveis. Além disso, livram a polícia de um trabalho excessivamente técnico
que, além de gasto em tempo, com frequência não surtia resultado.
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Brasil
Segundo ele, a eficácia dos LABs pode ser
medida pelos resultados obtidos. Entre 2009 e 2013, os laboratórios localizaram
em todo o país R$ 19,6 bilhões originários de modalidades criminosas que vão
dos crimes contra o patrimônio privado a corrupção em órgãos públicos estaduais
e federais.
No Rio de Janeiro, num trabalho
que precedeu a instalação das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), em 2010,
rastreamento norteado pelos LABs identificou e localizou um montante de R$ 6
bilhões, supostamente originários do tráfico de drogas, contrabando de armas e
corrupção, em nome de laranjas dos criminosos.
Desde os primeiros convênios firmados em 2008,
o Ministério da Justiça já instalou 28 laboratórios, repassando aos Estados
serviços, equipamentos e treinamento que custaram investimentos da ordem de R$
40 milhões.
Em 2014, serão instalados
outros 15, completando a rede. “Até o final do ano o Brasil será 100% LAB”,
garante o secretário nacional de Justiça, Paulo Abrão.
São Paulo era, até 2012, na crise que resultou
na matança de 106 policiais militares a mando do PCC – e que derrubou o
ex-secretário de Segurança, Antônio Ferreira Pinto – o último ponto de
resistência. Desde então, os organismos estaduais e federais passaram a agir em
sintonia para enfrentar o PCC e sua rede esparramada por vários Estados. A
Polícia Civil e o Ministério Público receberam os laboratórios.
No inquérito conduzido pelo Ministério Público
de São Paulo, a primeira e maior investigação específica sobre o PCC – uma
montanha de 876 páginas – descobriu-se que a quadrilha tem ramificações em
todos os estados e em países vizinhos, como o Paraguai e Bolívia.
Através de convênio firmado com
a Secretaria Nacional de Justiça, as autoridades bolivianas aceitaram a oferta
de instalação do LAB e devem colaborar no rastreamento de bens e finanças em
nome de criminosos brasileiros. Os indícios apontam que, além de fornecedores
da droga e armas, quadrilhas do Paraguai e da Bolívia ajudam a lavar dinheiro
do PCC.