"Vista pelos jovens a vida é um futuro infinitamente longo, vista pelos velhos, um passado muito breve."
Arthur Schopenhauer
Bem Vindos...
Primeiro, desejo as boas vindas a todos que visitam o Blog.
Neste espaço, pretendo expor um pouco dos meus pensamentos sobre diversas coisas: atualidades, política, Direito e tudo mais aquilo que julgar interessante e tiver um pouco de conhecimento para dividir.
Longe de mim querer ser o dono da verdade, mas espero respeitar e ser respeitado nas minhas opiniões, pois "todo ponto de vista é a vista de um ponto..."
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social anunciou ontem que desembolsou 4,6 bilhões de reais para projetos no Pará no primeiro semestre deste ano. As aplicações cresceram 15,6% em relação a igual período de 2014. Foram realizadas 9.602 operações, representando acréscimo de 5,8%.
Mais de 78% desse total foram destinados ao setor de infraestrutura, que absorveu R$ 3,6 bilhões. O incremento do valor desse setor foi 18,1% superior ao liberado nos seis primeiros meses do ano passado, o que confirma sua prioridade na política do BNDES, seguindo a diretriz do governo federal, de dar suporte com recursos públicos aos investimentos privados.
Os restantes 22% foram divididos entre a indústria, com R$ 539,5 milhões (11,7% do total), comércio e serviços, com R$ 268,2 milhões (participação de 5,8%), e agropecuária, com R$ 163,3 milhões (3,6%). O setor de comércio e serviços concentrou a maior quantidade de operações: 7.490.
O BNDES aprovou 9.795 pedidos de financiamento no período, somando R$ 701 milhões, mas só liberou um terço do total. Dá a média de pouco mais de R$ 30 mil por operação, porte não muito apropriado a uma linha de investimento desenvolvimentista.
Às micro, pequenas e médias empresas paraenses restaram 10% dos desembolsos do banco, ou R$ 464 milhões no período, já que 90% foram destinados a grandes empresas. A predominância das empresas menores foi apenas na quantidade das operações, que somaram 9.225 (96,1% do total). Ou seja: 4% das empresas beneficiadas concentram 90% dos recursos do BNDES.
Resultado dessa política de desenvolvimento: maior concentração de renda – e, por consequência, de poder.
Abaixo trago um artigo publicado no Conjur, que é bem interessante, sobre o instituto da delação premiada, acho válido lermos, é importante um pensamento reflexivo de todos nós sobre os rumos que o uso desse instituto pode tomar e suas implicações na nossa cultura jurídica.
Com delação premiada e pena negociada, Direito Penal também é lavado a jato
Por Aury Lopes Jr e Alexandre Morais da Rosa
A “barganha e a justiça criminal negocial”, como manifestações dos
espaços de consenso no processo penal, vem (pre)ocupando cada vez mais
os estudiosos, mas também os atores judiciários. A tendência de expansão
é evidente, resta saber que rumo será tomado, se seguirá o viés de
influência do modelo norte-americano da plea bargaining; o italiano do patteggiamento; o prático-forense alemão (cuja implantação evidenciou o conflito do law in action com o law in books).
Ampliaremos o tímido (mas crescente) modelo brasileiro introduzido pela
Lei 9099/95 (transação penal e suspensão condicional) até chegar na
Lei 12.850/13 e a colaboração premiada. Que rumo tomar? Quais os
limites? Que vantagens e inconvenientes isso representa? São questões
importantes a serem ponderadas.
A expansão dos espaços de consenso
decorre de fatores utilitaristas e eficientistas, sem falar na evidente
incompatibilidade com o Princípio da Necessidade (nulla poena sine iudicio),
mas é uma realidade que se impõe diante da insuficiência estrutural do
poder judiciário (sustentam os defensores do viés expansionista). Mas a
aceleração procedimental pode ser levada ao extremo de termos uma pena
sem processo e sem juiz? Sim, pois a garantia do juiz pode ficar
reduzida ao papel de mero ‘homologador’ do acordo, muitas vezes feito às
portas do tribunal (nos Estados Unidos, acordos assim superam 90% dos
meios de resolução de casos penais).
A negotiation viola
desde logo o pressuposto fundamental da jurisdição, pois a violência
repressiva da pena não passa mais pelo controle jurisdicional e tampouco
se submete aos limites da legalidade, senão que está nas mãos do
Ministério Público e submetida à sua discricionariedade. Isso significa
uma inequívoca incursão do Ministério Público em uma área que deveria
ser dominada pelo tribunal, que erroneamente limitase a homologar o
resultado do acordo entre o acusado e o promotor. Não sem razão,
afirma-se que o promotor é o juiz às portas do tribunal.
O pacto
no processo penal pode se constituir em um perverso intercâmbio, que
transforma a acusação em um instrumento de pressão, capaz de gerar
autoacusações falsas, testemunhos caluniosos por conveniência,
obstrucionismo ou prevaricações sobre a defesa, desigualdade de
tratamento e insegurança. O furor negociador da acusação pode levar à
perversão burocrática, em que a parte passiva não disposta ao “acordo”
vê o processo penal transformar‑se em uma complexa e burocrática guerra.
Tudo é mais difícil para quem não está disposto ao “negócio”.
O
acusador público, disposto a constranger e obter o pacto a qualquer
preço, utilizará a acusação formal como um instrumento de pressão,
solicitando altas penas e pleiteando o reconhecimento de figuras mais
graves do delito, ainda que sem o menor fundamento.
A tal ponto
pode chegar a degeneração do sistema que, de forma clara e inequívoca, o
saber e a razão são substituídos pelo poder atribuído ao Ministério
Público. O processo, ao final, é transformado em um luxo reservado a
quem estiver disposto a enfrentar seus custos e riscos, conforme a
doutrina de Ferrajoli.
A superioridade do acusador público,
acrescida do poder de transigir, faz com que as pressões psicológicas e
as coações sejam uma prática normal, para compelir o acusado a aceitar o
acordo e também a “segurança” do mal menor de admitir uma culpa, ainda
que inexistente. Os acusados que se recusam a aceitar a delação ou
negociação são considerados incômodos e nocivos, e sobre eles pesarão
todo o rigor do direito penal ‘tradicional’, onde qualquer pena acima de
4 anos impede a substituição e, acima de 8 anos, impõe o regime
fechado.
O panorama é ainda mais assustador quando, ao lado da
acusação, está um juiz pouco disposto a levar o processo até o final,
quiçá mais interessado que o próprio promotor em que aquilo acabe o mais
rápido e com o menor trabalho possível. Quando as pautas estão cheias e
o sistema passa a valorar mais o juiz pela sua produção quantitativa do
que pela qualidade de suas decisões, o processo assume sua face mais
nefasta e cruel. É a lógica do tempo curto atropelando as garantias
fundamentais em nome de uma maior eficiência.
No Brasil, a
tendência de expansão é evidente e a preocupação, crescente. Dos limites
tímidos da transação penal e suspensão condicional do processo, caímos
no outro extremo: o amorfismo da colaboração (leia-se: delação) premiada
e a Lei 12.850/13.
Essa semana foi noticiada uma sentença penal
condenatória na operação “lava a jato” em que alguém — beneficiado pela
delação premiada (ou seja, pena negociada) — é condenado a 15 anos e 10
meses em regime de “reclusão doméstica” ou “prisão domiciliar”. Depois
vem um regime “semiaberto diferenciado”(??) e uma progressão para o
regime aberto após dois anos. Tudo isso sob o olhar atônito do Código
Penal, que não se reconhece nessa ‘execução penal a la carte’.
Mas isso é outro Direito Penal? Com certeza. E outro processo penal também.
Mas
o que é esse “outro”? A serviço de quê(m) ele está? Quais seus limites
de incidência? Por mais que se admita que o acordo sobre a pena seja uma
tendência mundial e inafastável, (mais) uma questão que preocupa muito
é: onde estão essas regras e limites na lei? Onde está o princípio da
legalidade? Reserva de lei? Será que não estamos indo no sentido
negociação, mas abrindo mão de regras legais claras, para cair no erro
do decisionismo e na ampliação dos espaços indevidos da
discricionariedade judicial? Ou ainda, na ampliação dos espaços
discricionários impróprios do Ministério Público? Fico preocupado, não
apenas com banalização da delação premiada, mas com a ausência de
limites claros e precisos acerca da negociação. É evidente que a Lei
12.850/13 não tem suficiência regradora e estamos longe de uma definição
clara e precisa acerca dos limites negociais.
A delação premiada,
enquanto forma de consenso sobre a pena, precisa ser objeto de uma
problematização muito mais complexa (para além da simples recusa, pois
ela está aí), como por exemplo:
a) Quais os limites quantitativos e
qualitativos acerca da pena? Como fixar uma pena de 15 anos em regime
de prisão domiciliar? E as penas acessórias? Qual o critério para
fixação dos valores (milionários) a serem restituídos (ou pena
pecuniária)?
b) Até que momento pode ser efetivada? Apenas na fase
pré-processual? Após a denúncia mas antes da instrução? A qualquer
momento (então não haverá a aceleração procedimental característica)?
c) Que consequências procedimentais ela gera em termos de aceleração e limitação da cognição?
d)
Uma vez feita, mas por qualquer motivo não efetivada ou descumprida,
como vamos lidar com a confissão já realizada? E o pré-julgamento, como
fica? O juiz que teve contato com a confissão/delação deve ser afastado
ou continuaremos com a ilusão de que não há quebra da imparcialidade, de
que o juiz pode dar um rewind e deletar o que ouviu, viu e leu?
e)
Nos casos penais de competência do tribunal do júri, como se dará o
julgamento? Haverá júri e os jurados poderão não homologar a delação? E a
íntima convicção, como fica? Haverá quesitação sobre a delação? Ou com a
negociação usurparemos a competência do júri?
f) Havendo
assistente da acusação, poderá se opor a negociação sobre a pena? Qual o
espaço da vítima no ritual negocial? Ela poderá estabelecer ‘condições’
ou será ignorada (como ocorre na transação penal oferecida pelo
Ministério Público nas ações penais de iniciativa privada)?
g) Existe um “direito” do imputado ao acordo ou ele é um poder discricionário do Ministério Público?
h)
Qual o nível e dimensão de controle jurisdicional feito? Qual o papel
do juiz no espaço negocial sem que ele deixe de ser ‘juiz’ (ou seja,
imparcial)?
Muitas são as perguntas não respondidas pelo sistema
jurídico brasileiro, chegando-se a uma elasticidade absurda (e
decisionismo igualmente absurdo) de fixar uma pena de 15 anos de
reclusão a ser cumprida em regime de recolhimento domiciliar,
absolutamente fora de tudo o quem temos no Código Penal brasileiro.
Mas,
antes de pensarmos que ‘legislar’ é a solução para tudo isso, faço mais
um questionamento: já foi elaborado um sério e profundo ‘estudo de
impacto carcerário’ da expansão do espaço negocial? A expansão da
possibilidade de concretização antecipada do poder de punir por meio do
reconhecimento consentido da culpabilidade, não representará um aumento
significativo da nossa já inchada população carcerária? Como o sistema
carcerário sucateado e medieval que temos irá lidar com isso? Pois é,
parece que mais uma vez legislaremos primeiro, para ver o que vai
ocorrer depois...
Dessarte, estamos entrando — sem muito rumo ou
prumo — em terreno minado, (em grande parte) desconhecido e muito
perigoso para o processo penal democrático e constitucional.
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Aury Lopes Jr é
doutor em Direito Processual Penal, professor Titular de Direito
Processual Penal da PUC-RS e professor Titular no Programa de
Pós-Graduação em Ciências Criminais, Mestrado e Doutorado da PUC-RS.
Alexandre Morais da Rosa é
juiz em Santa Catarina, doutor em Direito pela UFPR e professor de
Processo Penal na UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) e na
Univali (Universidade do Vale do Itajaí).
Noruega: petróleo e altos impostos sustentam país com maior qualidade de vida do planeta
Estado norueguês também se destaca por busca pela igualdade de gênero e por incentivar aumento na taxa de natalidade
A cidade de Oslo é tudo o que se pode esperar da capital do país com
maior IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) do mundo. O frio nórdico é
acompanhado por um transporte com eficiência cronometrada, escolas que
abrigam alunos de diferentes classes sociais e hospitais de qualidade
gratuitos. Tudo público, gerido pelo Estado norueguês.
A prosperidade da Noruega, porém, não é fruto da exploração de colônias
ou de desenvolvimento industrial pioneiro. Independente da Suécia
apenas em 1905, a Noruega era o “primo pobre” entre os países nórdicos,
tendo a situação agravada ainda mais com a Segunda Guerra Mundial,
quando o território foi ocupado por forças da Alemanha nazista. A
recuperação do país foi iniciada com o Plano Marshall, mas o atual
estágio de desenvolvimento passou a ser uma realidade alcançável a
partir da década de 1970.
Vista de Oslo: Noruega é país com melhor IDH do mundo, graças ao petróleo e a altos impostos
O momento da virada norueguesa é 1969, quando foi encontrado petróleo
pela primeira vez no mar do Norte. “O óleo é claramente fundamental para
o desenvolvimento da sociedade norueguesa. Não dá para entender a
situação da Noruega sem pensar na questão do óleo. Podemos pensar que a
descoberta desse recurso natural foi uma sorte, mas, por outro lado, ele
foi muito bem manejado pelo Estado”, afirma Axel West Pedersen,
pesquisador do Instituto de Pesquisa Social, que já desenvolveu
trabalhos para a União Europeia.
Como uma das características principais desse sucesso norueguês ao
administrar o dinheiro oriundo do petróleo, pode-se citar a criação de
um fundo, considerado o maior do mundo. Anualmente, o governo tem o
direito de gastar em seu orçamento apenas 4% desse montante, de pouco
menos de US$ 1 trilhão, com o objetivo de garantir que as novas gerações
também se beneficiem do recurso mineral.
Para se ter uma ideia do valor recebido pela Noruega, dez anos depois
do início da exploração de petróleo e gás, a atividade já representava
um terço do lucro do país com exportações. Além disso, até o final de
2012, a exploração de petróleo já tinha rendido à Noruega cerca de R$
1,14 trilhão, pouco mais que o dobro do PIB (Produto Interno Bruto)
local.
Resistência à privatização
Nas últimas cinco décadas, durante o processo de melhoria da
infraestrutura nacional, a Noruega teve que resistir a forte pressão
pela privatização do setor. “Quando havia empresas estrangeiras
explorando a nossa reserva, asseguramos que elas fossem obrigadas a
treinar noruegueses, de forma que pudéssemos um dia consolidar uma
indústria própria de extração de petróleo. Também obrigamos as
companhias estrangeiras a pagar até 78% de impostos”, conta Heikki
Holmås, parlamentar do Partido Socialista.
O alto valor dos impostos, por sinal, não é uma exclusividade desse
setor da economia. Para financiar a qualidade de vida mais elevada do
mundo, o Estado norueguês cobra 42% de Imposto de Renda.
“Nosso modelo de desenvolvimento é semelhante aos dos outros países
nórdicos. Por meio do Estado do bem-estar social, garantimos uma série
de direitos iguais para toda a população e esse modelo é acompanhado de
altos impostos. A população aceita altas taxas tributárias porque recebe
de volta do Estado um serviço de saúde gratuito, boas escolas, licença
maternidade de até um ano, entre outros benefícios sociais”, explica a
parlamentar do Partido Trabalhista Marit Nybakk.
De acordo com Marit, esse modelo é bem-sucedido quando, antes do Estado
do bem-estar social, são criados valores comuns na sociedade local. No
caso da Noruega, entre esses valores está a busca pela igualdade de
gênero, um dos motivos que garante o país no topo do IDH há cinco anos,
quando comparamos os dados dos países que lideram a lista.
“A igualdade de gênero é parte de uma consciência ideológica própria
dos noruegueses, é um ideal muito estimado aqui. Mesmo assim ainda temos
algumas diferenças importantes entre os gêneros, temos que reconhecer
isso. Se por um lado vemos alta participação de mulheres nas
universidades, chegando a representar 70% dos formados na Universidade
de Oslo em 2013, elas costumam optar por trabalhos de meio período e no
setor público, enquanto os homens predominam na iniciativa privada”,
analisa Pedersen.
Taxa de natalidade e educação
Além de salários e oportunidades semelhantes para homens e mulheres, o
Estado ainda incentiva o aumento da taxa de natalidade, pagando os
salários das mães por um ano, dando bolsas para os jovens até a
maioridade e oferecendo educação gratuita de qualidade.
“Nunca me senti discriminada e acredito que sempre tive as mesmas
oportunidades dadas aos homens. Agora tive o meu primeiro filho e
pretendo ter outros. É muito bom poder ficar cuidando dele por um ano,
com a certeza de que voltarei ao meu emprego depois”, diz a
fisioterapeuta Christina Tanem, 33 anos.
Andre Lion/Opera Mundi
Ópera Nacional Norueguesa, em Oslo: país tem alta qualidade de vida
A busca por aumentar o número de nascimentos no país se deve ao
envelhecimento da população, fenômeno que afeta com gravidade diversos
países da Europa. Especificamente na Noruega, a porcentagem de pessoas
com mais de 67 anos era de 8% em 1950. Em 2014, esse índice chegou a
13%.
Nas últimas décadas, como parte desse processo, o país alterou o perfil
das mulheres que têm filhos. Na Noruega, as mulheres têm seus primeiros
filhos, em média, com 28,6 anos, e mais da metade delas (54,9%) o faz
sem estarem casadas.
Outro dado interessante é que, em 1970, 11% dos nascimentos vinham de
mães adolescentes. Hoje, esse número caiu para menos de 2%. A mudança
foi possível com a legalização do aborto, que faz parte das políticas de
igualdade de gênero do país e, anualmente, é a escolha de 2% das
mulheres entre 20 e 24 anos.
Rei Harald V: país ainda é uma monarquia; rei é bastante popular entre noruegueses
Além
das licenças maternidade e paternidade, a educação pública e gratuita
de qualidade é outro elemento central para incentivar os noruegueses a
terem filhos.
“Os alunos vão para uma ou outra escola devido à proximidade de suas
casas e o Estado faz testes anuais para acompanhar a qualidade de cada
instituição. Os diretores têm bastante autonomia, pois há apenas um
currículo básico e os métodos podem ser alterados, não existe uma regra
sobre número de alunos por sala, por exemplo. Aqui também temos projetos
em comum entre alunos de séries diferentes, pois fazemos com que os
mais velhos desenvolvam habilidades como ensinar os mais novos”, conta
Elin Brandsæter, diretora de uma escola que reúne 538 jovens de 38
nacionalidades diferentes, que cursam ensino primário e secundário.
O cientista social Pedersen concorda com a centralidade da educação no
modelo nórdico de sociedade. “Um aspecto realmente importante da
sociedade na Noruega é o modelo de educação pública, muito inclusivo.
Ele propõe a interação entre crianças de diferentes classes sociais, o
que gera inúmeras consequências positivas. Um dos nossos desafios é
manter essa característica, mesmo quando os imigrantes passam a viver em
locais mais segregados, por exemplo. De qualquer maneira, se o ensino
fosse privado aqui esse desafio seria ainda maior. O modelo deu mais
certo aqui porque os guetos são maiores na Suécia e na Dinamarca. Na
Suécia, houve inclusive um movimento de privatização das escolas, mas
acabou sendo muito malsucedido.”
Monarquia
A aparência de modernização na Noruega é acompanhada de um traço
curioso: o país ainda é uma monarquia. O rei Harald V tem poderes
limitados, mas realiza reuniões semanais com o gabinete do
primeiro-ministro.
Além das formalidades, Harald V também desfruta de alta popularidade.
Segundo pesquisa divulgada em 2014, ele tinha 90% de aprovação da
população, o que lhe dava o título de monarquia mais popular do mundo.
As famílias reais de Dinamarca e Holanda apareciam na sequência do
estudo, com 80% de aceitação.
Criar
cadeias de valor capazes de estimular a economia da Amazônia e da cidade de
Belém é uma missão permanente para os gestores públicos e empreendedores
instalados na região. A cidade enfrenta problemas de uma metrópole ao mesmo
tempo que precisa cuidar de comunidades ribeirinhas em dezenas de ilhas de seu
litoral. Na visão do secretário-executivo da Rede Nossa Belém, José Francisco
Ramos, que deu o tom do Diálogos Capitais – Metrópoles Brasileiras, último
evento do ciclo de debates sobre o tema, desta feita na capital do Pará, o
desenvolvimento da região precisa de planejamento, definição de áreas
prioritárias para investimentos e, principalmente, de verticalização de cadeias
de valor. “O Pará importa 85% do que consome. É o maior produtor de mandioca do
Brasil, contudo produz pouquíssima fécula. Qual é o nosso negócio? É hora de
pensar e redefinir as áreas estratégicas de desenvolvimento.”
Segundo
Ramos, os planos de desenvolvimento aplicados à região poucas vezes têm
continuidade e não existe uma real mensuração de seus impactos e resultados. “É
preciso estabelecer metas para setores com grande potencial de geração de
emprego e renda e fazer os investimentos necessários.” Ele aponta o
cooperativismo como um caminho para ampliar o valor dos produtos extrativistas,
entre eles o açaí e a pesca, mas alertou para os descaminhos de diversas
organizações criadas, onde a falta de gestão qualificada desmobiliza e produz
fracassos. “É necessário estimular a participação social, e o poder público tem
o papel estruturante de oferecer recursos e qualificação para as comunidades
envolvidas.”
O
diretor da Rede Nossa Belém alertou para a disparidade dos investimentos
realizados na cidade, com mais de 1 bilhão de reais para saneamento e menos de
20 milhões para a mobilidade. Os dois temas, segundo ele, são essenciais, mas é
preciso criar um meio-termo para avançar em todas as frentes importantes de
demanda social. “É preciso tratar de resíduos, melhorar a mobilidade não apenas
motorizada, mas de pedestres e ciclistas, além de dar prioridade ao transporte
coletivo.” Problemas repetidos em todas as metrópoles visitadas pela série de
Diálogos, que em 2014 debateu os principais desafios das grandes cidades em São
Paulo, Belo Horizonte, Recife, Porto Alegre.
Belém,
com pouco mais de 1,4 milhão de habitantes, tem problemas típicos da Amazônia,
e vive os mesmos dramas de outras metrópoles brasileiras. Para debater os
impasses do desenvolvimento local na região, CartaCapital e o Instituto
Envolverde levaram ao palco três especialistas de setores diferentes: João
Coral, diretor institucional e de energia da Vale; João Meirelles, diretor do
Instituto Peabiru, organização social que atua na área de desenvolvimento
local; e Suênia de Souza, gerente do Centro Sebrae de Sustentabilidade. A
mediação ficou por conta de Dal Marcondes, diretor do Instituto Envolverde.
A
carência de serviços públicos e trabalho formal cria distorções e ilegalidades
nas relações de trabalho, como é o caso da exploração do açaí nas ilhas e
territórios próximos à capital paraense. “Milhares de crianças e adolescentes
são obrigados a subir em palmeiras para a coleta do fruto”, explica João
Meirelles. De acordo com dados da Procuradoria do Trabalho em Belém, na
Amazônia existem 500 mil crianças de alguma maneira forçadas a realizar um
trabalho considerado perigoso, muitas delas com menos de 16 anos, idade mínima
para desempenhar uma atividade produtiva. E esse cenário de risco avança sobre
outros ramos importantes na região, como a pecuária, que engloba cerca de 50
mil pequenos produtores. “É a atividade com o maior número de registros de
acidentes de trabalho no estado do Pará”, conta Meirelles.
Questões
relativas ao trabalho formal estão entre os desafios, a começar pela baixa
qualificação da população, o que faz com que empresas grandes tenham em muitos
casos de trazer profissionais de fora. “Temos uma política de fortalecimento de
parceiros locais e estímulo ao empreendedorismo para fornecer insumos
utilizados em nossos processos”, sugere Coral, da Vale, ao reafirmar o foco de
investimentos na região. A empresa, explica, realiza projetos sociais e
ambientais, mas nem sempre com a capacidade de suprir carências típicas da
ausência do Estado. “Entendemos que é nosso papel ajudar na geração de renda e
na qualificação de empresas e fornecedores, que é nossa missão apoiar o
desenvolvimento da região, mas isso não pode ser trabalho de uma única empresa
ou organização.”
Na
mesma linha de fortalecimento do empreendedorismo, geração de renda e trabalho
atua o Sebrae. “É um desafio apoiar a criação e consolidação de empresas em um
cenário adverso, onde os empreendedores nem sempre têm qualificação técnica”,
diz Suênia de Souza. Dados apresentados pela executiva mostram a importância
das micro e pequenas empresas no País. “Mais de 99% dos registros de empresas
no Brasil são de micro e pequenas, e a maior parte dos empregos gerados também
estão ligados a esse setor da economia.” A solução para grande parte dos
dilemas da região, avalia Suênia de Souza, seja em Belém, seja no interior da
Amazônia, depende do crescimento do número de empreendedores capazes de gerar
valor a partir de insumos locais de biodiversidade, prestação de serviços ou
integrados às cadeias de valor das grandes empresas atuantes na região.
O
trabalho precário e a ausência do Estado na busca de soluções foram consensos
no diálogo. Há, porém, demandas estruturais que atrapalham o caminho das soluções,
entre elas a má distribuição tributária e a informalidade de muitas atividades,
como boa parte da exploração madeireira e da pecuária, além de pouco apoio para
a qualificação e formalização de atividades extrativistas. Basta citar a
castanha e o açaí, entre outros produtos da floresta ou dos rios da região.
Metrópole amazônica, Belém é o centro irradiador de informação, formação e
cultura na região, e arca com a responsabilidade de ser um grande polo de
atração de trabalhadores. “Nas comunidades ribeirinhas praticamente só tem
crianças e velhos”, compara João Meirelles, o que mostra o tamanho do desafio
da capital em acolher e criar condições de educação, trabalho e qualidade de
vida.