Em São Paulo, conforme vocês poderão ler abaixo, aconteceu por duas vezes um fato raríssimo e inusitado, o apoio mútuo entre PT e PSDB na eleições, em 1998 e 2000, tudo na melhor união "os inimigos do meu inimigo são meus amigos". E o curioso é que o enredo se reinventa em 2012, mas com algumas pequenas diferenças, que podem fazer com que a peça não seja estrelada, conforme podem verificar abaixo. Entretanto, Todavia, No entanto, após ler o posto do Blog do Josias, me veio a seguinte pergunta: Será posspivel uma união PT e PSDB em Belém, contra o candidato a prefeito Edmilson Rodrigues (PSOL), haja vista ser este um partido de oposição de ambos? Bem, pelo menos fica a dica de uma história de sucesso, por duas vezes, diga-se de passagem.
Confiram o Post do Blog do Josias, muito interessante por sinal.
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O último Datafolha trouxe dados que ativaram a memória de tucanos e petistas. Segundo o
instituto,
Celso Russomanno venceria qualquer adversário no segundo turno se a
eleição fosse hoje. Contra José Serra, prevaleceria por 58% a 30%.
Contra Fernando Haddad, venceria por 56% a 30%.
Operadores da campanha tucana de Serra e do comitê petista de Haddad
começam a se dar conta do óbvio: mantido o cenário, PT e PSDB dependerão
um do outro para evitar o triunfo do inusitado. Russomanno desempenha
na disputa de 2012 o papel representado por Paulo Maluf nas eleições de
1998 e de 2000.
Numa, Mario Covas foi reeleito governador de São Paulo com o apoio do
PT. Noutra, Marta Suplicy elegeu-se prefeita da capital com o suporte
do PSDB. Em ambas Maluf emergira do primeiro round com votação e cara de
favorito. A adoção do modelo ‘um por todos e todos contra Maluf’ foi
vital para derrotá-lo.
Esboça-se agora uma quadro semelhante. Com uma diferença: embora
reconheçam que Russomanno talvez exija a mesma união de esforços,
tucanos e petistas crêem que, dessa vez, será mais difícil estreitar a
inimizade. Nos 14 anos decorridos desde 1998, formou-se um quase
intransponível manancial de rusgas.
Em 1998, Covas passara raspando para a segunda fase da disputa.
Superara Marta pela estreita margem de 0,4% dos votos válidos. Coisa de
70 mil cabeças. As urnas mal haviam sido contadas e José Serra tocou o
telefone para casa de Marta. “Ele era a pessoa, naquele momento, mais
próxima de mim no PSDB”, recordaria ela mais tarde, num depoimento à
Fundação Mario Covas (vídeo disponível
aqui).
De acordo com o depoimento de Marta, Serra lhe disse: “Nós estamos
querendo que você apoie” o Covas. Embora ainda não tivesse digerido a
derrota, que atribuiu a uma “manipulação” das pesquisas, ela diz ter
respondido assim ao apelo de Serra: “Não tenho nenhuma dúvida de que vou
apoiar. E apoiei.”
Hoje, é Serra o candidato do PSDB, não Covas. Ele faz dos ataques à
gestão de Marta na prefeitura um dos pilares de sua campanha. Se
telefonar para a
ex-quase-amiga talvez nem seja atendido. De
resto, em duas malogradas cruzadas presidenciais –2002 contra Lula e
2010 contra Dilma Rousseff— Serra ateou no petismo os mais primitivos
instintos de aversão.
Dava-se algo diferente com Covas. Mesmo os mais fervorosos
antagonistas do PT o respeitavam. Afora o apoio de Marta, ele obteve na
batalha contra Maluf a adesão de outros dois petistas de peso. O tucano
José Aníbal, hoje secretário de Energia do governo Geraldo Alckmin,
rememora:
“A uma semana da eleição, numa segunda-feira, peguei o Mario [Covas]
às quatro da manhã. Fomos na fábrica da Ford e a uma reunião com
sindicalistas em São Caetano. Depois, fomos à prefeitura de São
Bernardo. O prefeito era o Maurício Soares. Tinha sido do PT, advogara
para o sindicalista Lula. Naquele instante, estava no PSDB.”
Segundo Aníbal, Covas convidou para uma conversa na prefeitura o
petista Luiz Marinho, então presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de
São Bernardo. “Foi um papo muito bom. O Marinho disse ao Mario:
“governador, pode contar com o meu apoio.” Ouça-se mais um pouco de
Aníbal: “Dali, rumamos para a prefeitura de Santo André, que era
comandada por Celso Daniel.”
De novo, Covas saiu da conversa com o apoio do interlocutor. Mais do
que isso: “Ele nos pediu que mandássemos rodar um jornal de uma folha.
De um lado, o apoio dele ao Mario. Do outro, o apoio do Luiz Marinho”,
relata Aníbal. “Já no carro, eu disse ao Mario: nós vamos ganhar. E ele:
‘é, parece que vamos.’ À noite, o jornal já estava sendo distribuído na
região do ABC” paulista. Dali a seis dias, Covas bateria Maluf.
Hoje, Celso Daniel é uma lápide e Luiz Marinho é prefeito de São
Bernardo e candidato de Lula ao governo de São Paulo em 2014. Tudo o que
não deseja é que o PT se converta em azeitona na empada do PSDB de
Serra e, sobretudo, de Geraldo Alckmin, seu provável adversário.
Na
eleição municipal de 2000, inverteram-se os papéis. Candidato do PSDB à
prefeitura, Alckmin foi barrado nas urnas do primeiro turno. Dessa vez,
foi Marta quem escorregou para o segundo round contra Maluf, de novo um
contendor com semblante de favorito. “Eu fui conversar com o Covas,
querendo o apoio dele”, ela conta. “Ele não teve nenhuma dúvida: ‘Vou
falar com o Geraldo…’ O Alckmin também me apoiou.”
Àquela altura, Covas já havia sido abalroado pelo câncer que lhe
tiraria a vida cinco meses depois. “Ele ia se internar naquele dia”,
relembrou Marta. “Isso a gente não esquece.” A candidata convidou Covas
para um ato de apoio à sua campanha, que ocorreria no Sindicato dos
Jornalistas de São Paulo. “Pra mim, é vital que você venha, porque pode
ser um diferencial. E aí ele foi. Ele estava muito mal já. Disse:
‘Marta, eu adiei a entrada no hospital porque não quis correr risco.
Acho que é importante você ganhar. Eu agradeci, fiquei muito emocionada,
dei um beijo nele.”
Empurrado por Covas, o grosso do tucanato pegou em lanças por Marta. E
Maluf migrou novamente da condição de favorito para a de derrotado.
Hoje, Covas é uma sepultura e Alckmin é governador e candidato à
reeleição em 2014. Tudo o que não deseja é que o PSDB vire cobertura de
chantili numa torta de morango do PT de Haddad.
Maluf continua frequentando o palco. Com duas diferenças: agora, ele é
procurado pela Interpol e tenta impedir a repatriação de US$ 22 milhões
que o Ministério Público diz terem sido desviados da prefeitura para o
paraíso fiscal de Jersey. Mas já não é visto como ameaça. Ao contrário,
teve o apoio disputado pelos ex-rivais.
Russomanno é uma oportunidade que Maluf deixou de aproveitar.
Negou-lhe a legenda do PP e forçou a transferência dele para o nanico
PRB. Sem candidato, Maluf foi cortejado pelo PSDB. Mas Alckmin esnobou-o
numa reivindicação fisiológica por cargo. No Estado, manteve o apoio
ao governo tucano. Porém…
Premiado por Dilma Rousseff com uma secretaria do Ministério das
Cidades, Maluf bandeou-se da candidatura de Serra para a de Haddad. De
quebra, renovou o prontuário numa foto histórica. Posou nos jardins de
sua mansão ao lado de Lula e do seu pupilo. Agora, o ex-nefasto coabita a
coligação com Marta. Ela fez cara de nojo. Mas já levou a cara à
propaganda de Haddad.
No centro de um palco tão crivado de ironias, PT e PSDB ruminam uma
certeza. Os dois lados consideram que a eventual vitória de Russomanno
conduzirá São Paulo ao desastre. Mas se Deus descesse neste final de
semana à Terra para perguntar ‘a cidade ou as conveniências
partidárias?’, tucanos e petistas gritariam: às favas com a cidade.