Por Dinheiro Público & Cia
07/08/14 15:17
Estagflação é um fenômeno tão raro que a palavra
não existia até os anos 70.
Trata-se da combinação de atividade econômica
estagnada, ou em desaceleração, com inflação alta, ou em aceleração.
Até o advento do termo, essa não era uma situação
costumeiramente cogitada pelos teóricos. Em condições normais, uma freada da
economia deprime o consumo e tira o fôlego da inflação.
Descobriu-se que estagflações podem acontecer
quando um preço que afeta todos os setores, como o do petróleo ou o do dólar,
tem uma alta repentina -e também quando o governo exagera nos gastos públicos
ou intervém demais nos mercados e nos contratos.
O caso brasileiro se encaixa no conceito. Neste
ano, o Produto Interno Bruto, medida da renda nacional, vai crescer ainda menos
que no ano passado, enquanto a inflação vai superar os já elevados 5,9% de
2013.
No governo Dilma, gastador e intervencionista, a
expansão fraca do PIB é tão persistente quanto a alta forte dos preços.
Nesta semana, o presidente do Banco Central,
Alexandre Tombini, negou que haja estagflação com o argumento de que os índices
de inflação têm caído nos últimos meses. A afirmação é questionável porque se
ampara em resultados ainda incipientes, e a inflação supera as metas do BC
desde 2010.
Há, no entanto, um dado mais sólido a ser levado em
consideração: a taxa de desemprego, em queda quase contínua nos últimos anos.
Nas típicas estagflações, o desemprego cresce
devido à freada do consumo e dos investimentos. Tanto que uma regra simples
usada no passado para identificar uma estagflação era a elevação do “Índice da
Infelicidade”, uma soma das taxas de inflação e desemprego.
Com inflação na casa dos 6% e desemprego na dos 5%,
o índice brasileiro hoje está perto dos 11%. Há seis anos, quando a economia
vivia um bom momento, o índice chegava aos 13%, com desemprego de 8% e inflação
de 5%.
A queda da infelicidade nacional -ao menos a medida
por essa fórmula prosaica- pode enfraquecer a tese da estagflação. Mas não
chega a derrubá-la.
Na Rússia, onde as taxas de inflação, desemprego e
crescimento econômico são muito semelhantes às brasileiras, a vice-presidente
do banco central usou a palavra para descrever a conjuntura vivida pelo país.
Semântica à parte, o certo é que o Brasil já
enfrenta o dilema clássico da política econômica em uma estagflação: as medidas
que podem reduzir a inflação tendem a agravar a estagnação, e vice-versa.