Análise: Ao menos fora de campo, Brasil ganhou a Copa
SIMON KUPER é colunista do "Financial Times", onde trabalha desde 1994. É autor de diversos livros sobre futebol, incluindo "Soccernomics" (2009), escrito em parceria com Stefan Szymanski
Pelo menos fora de campo, o Brasil ganhou a Copa do Mundo. Para nós,
estrangeiros, tudo parece ter funcionado muito bem.
Os estádios foram perfeitos e não desabaram (se bem que uma passarela no
Maracanã quase desmoronou antes de Argentina x Bósnia), os aeroportos deram
conta e o trânsito não foi péssimo, mesmo que o Brasil tenha tido que fechar
escolas e universidades e decretar feriados para que isso fosse possível.
Em suma, a organização foi ótima. Mas essa é a parte fácil. Já assisti a
sete Copas, seis Eurocopas e uma Olimpíada, e, nos últimos tempos, a
organização sempre é boa.
A Fifa sabe organizar Copas. Ela tem um roteiro. Se o país anfitrião o
segue mais ou menos, as coisas funcionam.
Uma Copa do Mundo é um evento enorme apenas na TV: a Copa do Brasil será
o evento de maior audiência da história. Mas a presença física do torneio é
mais modesta.
Os espectadores foram brasileiros, em sua imensa maioria. Apenas cerca
de 700 mil estrangeiros vieram, pouco mais que a média mensal normal. Como
disse o governo, o movimento nos aeroportos foi menor do que no Natal.
A polícia lotou áreas turísticas para proteger a nós, estrangeiros. Tudo
transcorreu razoavelmente sob controle.
Estádios também são mais ou menos fáceis de construir hoje em dia. Os
daqui se parecem muito com os da Alemanha em 2006 ou os da África do Sul em
2010. Ninguém vai a uma Copa para curtir os estádios, de qualquer forma.
Portanto, a boa organização não é algo que, de repente, indique que o
Brasil seja um país desenvolvido e maravilhosamente administrado.
Não. O que fez desta Copa a melhor à qual já assisti foi o ambiente. Sei
que os brasileiros estão fartos dos chavões estrangeiros sobre sol, areia e
samba. Mas procurem, por favor, entender o efeito de Copacabana sobre um
cidadão do norte da Europa.
Alguns dos meus melhores momentos aqui foram as caminhadas que fiz
descalço à beira-mar no Rio, em Fortaleza e em Salvador. Desconfio que muitos
torcedores estrangeiros sintam o mesmo.
O outro elemento fundamental do ambiente: os brasileiros. Já fui a Copas
bem organizadas como a dos EUA em 1994 e a do Japão em 2002, quando a maioria
dos habitantes locais nem sabia que estava ocorrendo um Mundial.
Os brasileiros viveram a Copa. E quase todo mundo que conheci aqui me
tratou com simpatia. Essa atitude amistosa é um trunfo nacional.
Na noite do 7 a 1 caminhei pelos Jardins, e, em vez de protestos, vi
muitos brasileiros gargalhando. A maioria de vocês reagiu à humilhação com
dignidade. Nós, visitantes, pudemos ter um vislumbre do Brasil, ainda tão pouco
conhecido no exterior.
Não haverá legado econômico. Quase todos os economistas acadêmicos
concordam: sediar uma Copa não enriquece o país anfitrião.
A boa imagem conquistada pelo Brasil neste mês não vai se traduzir em
mais turismo ou investimentos estrangeiros no futuro. Fora de campo, o Brasil
viveu uma boa Copa. Essa é uma recompensa por si só. Desfrutem dela.
(Tradução de Clara Allain)
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