Mercado e
democracia
Henrique
Meirelles
20/04/2014 03h00
Há pouco tempo o dólar atingiu R$ 2,45. Analistas
previram que fosse a R$ 2,70, e empresas trabalhavam com cenários de até R$
3,50. Os juros nos mercados internacionais subiam, e havia consenso de que os
fluxos de capitais aos emergentes seriam redirecionados aos países centrais.
Hoje, recursos retornam aos emergentes, juros
internacionais recuam, o dólar está em R$ 2,23, e empresas brasileiras captam
recursos externos.
Como explicar tamanha variação no mercado? Há três
opiniões básicas: 1) Os mercados são racionais e, com as informações
disponíveis, tomam decisões racionais; 2) São dominados por investidores que
manipulam os fluxos internacionais para ter lucro; 3) São um bando de malucos
correndo atrás da última onda.
Análise mais realista permite visão mais
balanceada. Parafraseando Churchill, a economia de mercado é o pior regime
econômico, excluindo os demais. As tentativas de substituí-lo fracassaram –como
no espetacular colapso da União Soviética–, e é por isso que a China abre sua
economia.
Apesar de suas falhas e crises, os mercados seguem como o sistema mais eficiente de alocação de recursos. Assim como a democracia é o melhor sistema político, embora também sujeita a fortes variações e irracionalidades.
Apesar de suas falhas e crises, os mercados seguem como o sistema mais eficiente de alocação de recursos. Assim como a democracia é o melhor sistema político, embora também sujeita a fortes variações e irracionalidades.
Economia de mercado e democracia são os sistemas
que mais atendem aos interesses de países e populações. Eles são os mais
transparentes e nos quais as decisões são tomadas pelo maior número possível de
pessoas.
Nos mercados, os participantes, investidores ou
donas de casa na feira, buscam acesso às melhores informações para alocar
recursos com melhor retorno e risco. Na democracia, os eleitores buscam
informações para escolher candidatos que prestem o melhor serviço à comunidade.
Isso tende a resultar na melhor decisão possível, dada a capacidade desses
sistemas de disseminar informações num mundo transparente e conectado. Mas,
como organização humana, não estão imunes a erros por desinformação, emoção,
má-fé. A crise de 2008 é exemplo dramático na economia. Não faltam exemplos na
política.
Cabe aos governantes assegurar transparência para
que as decisões sejam as mais informadas, com riscos regulados e regras claras
que igualem participantes e evitem privilégios. As turbulências hoje refletem
incertezas de uma situação inédita. EUA, Europa e Japão adotaram novos
instrumentos de política econômica para combater a crise. Sua retirada gera
novas incertezas e reações exageradas, depois corrigidas, muitas vezes de forma
também exagerada.
O Brasil deve agir com clareza e
transparência para obter a melhor alocação de recursos e lidar com a
volatilidade, que deve continuar.
Fonte: Folha de São Paulo
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